sexta-feira, 23 de outubro de 2009

SEREMOS JULGADOS PELO AMOR



Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. (Mateus 25:34)

Vou começar esta minha reflexão com uma afirmação de extrema importância do Grande Santo São João da Cruz: “No princípio, está o amor e no entardecer da vida seremos julgados pelo amor”.
Estava eu na Escola Apostólica Dominicana, na manhã de 31 de Outubro de 1997, ouvindo a Rádio Renascença. Atarefado com as lidas da limpeza do meu quarto e preparando-me para o toque do sino que anunciava o momento da refeição do almoço, quando a certa altura ouço na rádio a seguinte noticia: “Tempestade passa pela Povoação em São Miguel – Açores e são já seis as mortes”. Aflito recorri logo ao telefone e tentei contactar com a minha família e amigos, mas nada. Nada funcionava e a minha aflição era cada vez maior.
Desci a escadaria e dirigi-me à sala comum para ver o noticiário, quando para meu espanto e dor na notícia de abertura vejo o Senhor João Bosco Mota Amaral, então deputado pelo círculo dos Açores, pedir um voto de luto pelas 29 pessoas que tinham falecido na Freguesia de Ribeira Quente. Foi atroz!
Contacto telefónico, nada. Não almocei e jantei neste dia, esperava ansiosamente pelo noticiário da noite. Ai, então recebi a noticia mais dolorosa, quando vi o meu falecido avô a dizer que lhe tinha morrido uma filha e quatro netos.
Dia seguinte 1 de Novembro (Dia de Todos os Santos) não consegui ir à Missa traumatizado com todo aquele horror e morte. Só neste dia à noite é que consegui contacto telefónico com a minha família que me confirmou o sucedido. Cinco dias depois vim a São Miguel ver a minha família e encontrei uma Estrada e uma Ribeira Quente totalmente diferente, destruída, a cheirar a lodo e enlutada. Não pude fazer nada a não ser rezar e dar algum conforto a todos os que por mim passavam e conversavam.
Com toda esta catástrofe, pensava eu que o meu povo iria-se voltar mais para Deus e pensar naquilo que nos é de mais certo na vida, que é a nossa passagem deste mundo para o outro. Não de facto não foi assim.
De todos os lados vieram auxilio e ajudas que no início serviu para acudir aos que mais precisavam. O que foi de louvar e agradecer. Mais tarde e tal era a abundância de dinheiro que muitos se deixaram perverter, tornaram-se gananciosos e venderam a sua alma ao dinheiro. Ainda hoje infelizmente doze anos após ainda por ai rolam dinheiro da catástrofe de 1997, que anda a beneficiar alguém.
Voltei para a minha terra em 1999. Prestei serviço militar na Armada Portuguesa. Passei a residir cá até hoje e infelizmente vejo que muita gente já se esqueceu do horror que aqui se passou à doze anos atrás. Esqueceram-se de que morreram 29 pessoas, para benefício de muitos. A Ribeira Quente está muito mudada. Nos seus hábitos, costumes, religiosidade e acolhimento. Minha avó que Deus a tenha no eterno descanso dizia-me muitas vezes que o dinheiro era inimigo da alma. Não podemos viver sem ele, mas também não nos devemos vender a ele.
Acredito que ainda há quem chore e lamente toda aquela tragédia e morte. Acredito que ainda há na mente e coração de muitos a terna saudade dos que faleceram naquele fatídico dia.
Um dos meu lemas de vida é: faz o bem agora e não te agarres a nada. Faz tudo o que puderes, pois quando a tampa do caixão se fechar nada mais poderemos fazer.
No próximo dia 31 de Outubro, façamos silêncio nos nossos corações e rezemos por aqueles que faleceram, se já estão juntos de Deus que eles sejam intercessores nossos e para que possamos viver numa sociedade mais justa, mais honesta, mais irmanada em torno dos verdadeiros valores e da Fé em Cristo Jesus.
A todos os que faleceram no dia 31 de Outubro de 1997 a minha eterna saudade e votos de se encontrem junto da Glória de Deus.

O Irmão Mestre
Márcio Peixoto

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