quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Para Meditar - Aquilo sim, era uma Igreja


Se as coisas fossem como gostaríamos que fossem, mesmo assim continuaríamos a queixar-nos de que já não eram como dantes...
«Nos dias sublimes e longínquos da sua infância maravilhosa, rota, sem pão, descalça, viveu em antros, gemeu em galés, os tigres morderam-na, varou-a o ferro, queimou-a o fogo, trezentos anos a perseguiram, milhões de vezes a crucificaram, e, das contínuas mortes da sua carne, ergueu-se, ilesa e luminosa, a sua imortalidade espiritual.» Têm mais de um século estas palavras de Guerra Junqueiro.
Aquilo sim, era uma Igreja. Basta pegar nos Actos dos Apóstolos. A comunidade estava unida, ninguém era dono de nada, tudo era comum entre irmãos. Sentiam-se, sobretudo apóstolos, e actuavam como testemunhas da ressureição.
Aquilo sim, era a Igreja de Cristo, a verdadeira.
Segundo estes apaixonados, a Igreja de hoje parece-se mais com uma caricatura da própria Igreja. Vêem-na distorcida, hipertrofiada, quando não mesmo pervertida.
Reconheceria, hoje, Cristo a sua Igreja?
Parece-lhes que sobram estruturas e burocracias, que falta liberdade, que a hierarquia saqueou em seu proveito a dinâmica da ressurreição e que as mensagens de Jesus se transformou em ideologia ou em simples pietismo.
Segundo eles, urge voltar à essência, ao estilo da comunidade primitiva.
Em boa verdade não lhes faltam razões, a estes apaixonados. Contudo, admitiriam eles que a Igreja, com vinte séculos de existência, não pode ser uma mera arqueologia?
Senhor, pela verdade da Igreja, não da Igreja que temos, mas da Igreja que somos.


(Henrique Manuel / Livro: mas há Sinais...) Rádio Renascença - Momentos de Reflexão

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