sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Para Meditar - Beatice


«Há tanta beatice dentro das igrejas! Tanta gente que não é adulta na sua fé. Tanta gente que não dá um passo sem consultar o senhor prior. Tanto incenso a perfumar pessoas, o qual só é devido a Deus!»

É um desabafo colhido das cartas que aqui vão chegando. Assino-o. E não carregarei nas tintas ao acrescentar que beatas e beatos, no sentido deturpado da palavra, constituem um obstáculo como um perigo à pastoral como à pessoa do padre.
Mas não me compete nem interessa alargar por aqui este caminho. Podia ser longo. Fiquemo-nos pelo indevido e perigoso incensar de pessoas, para perguntar se a Igreja antes de ser uma comunidade de crentes em culto a Deus, não se fica, muitas vezes, por um estéril culto ao ego de cada um; se antes de ser um espaço de serviço ao outro, não o é de serviço ao próprio, um palanque ao sol, uma ribalta iluminada. Porque o Sr. Abade escolheu aquela e não esta, nomeou aquele e não outro, visita fulanos e não sicranos, porque quem faz as leituras é...
Antigamente os cristãos reconheciam-se pela sua vida,
distinguiam-se. O nome de Jesus Cristo fazia brilhar os olhos, valia o preço de um homem, tinha que ser cochichado no convés de escravos ou nas masmorras de Roma e celebrado na penumbra das catacumbas. Estava de tal forma no interiro do homem que era preciso dilacerar-lhe as entranhas se se quisesse arrancá-lo. O nome de Jesus Cristo não era dito com palavras de vento, mas de dinamite capaz de fazer dar uma volta completa à vida.
Não estará neste peixe-carne, nesta mornice, na insustentável leveza dum quente-frio, a razão de tantos partirem em busca de razões mais sólidas, de testemunhos mais vivos, alheios a vénias e a incensos?


(Henrique Manuel / Livro: mas há Sinais...) Rádio Renascença - Momentos de Reflexão

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